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2 de julho de 2025 Artigos

A esteatose hepática, anteriormente denominada Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (NAFLD), representa hoje a principal causa de doença hepática crônica no mundo. Esta condição, entendida como a manifestação hepática da síndrome metabólica, reflete diretamente o crescimento global da obesidade, do diabetes tipo 2 e de outras disfunções metabólicas.

Dentro desse espectro, o termo Esteato-hepatite Não Alcoólica (NASH) foi historicamente adotado para descrever a forma mais avançada da doença — caracterizada por inflamação hepática, lesão hepatocelular e risco elevado de progressão para fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular.

No entanto, avanços no entendimento da fisiopatologia da doença, somados à necessidade de uma abordagem mais precisa, inclusiva e livre de estigmas, motivaram uma ampla revisão dos critérios diagnósticos e da nomenclatura. Esse processo foi conduzido por um consenso internacional liderado pelas principais sociedades hepatológicas — AASLD, EASL e ALEH —, reunindo especialistas de 56 países, além de representantes de sociedades médicas, órgãos regulatórios e associações de pacientes.

O resultado desse consenso é a adoção da nova terminologia: MASH (Metabolic dysfunction–Associated Steatohepatitis), inserida no espectro de MASLD (Metabolic dysfunction–Associated Steatotic Liver Disease). Essa mudança reflete não apenas uma atualização semântica, mas um realinhamento conceitual, centrado nos mecanismos fisiopatológicos da doença.

Por que a mudança era necessária?

A nomenclatura anterior, baseada em termos como “não alcoólica” e “gordurosa”, apresentava limitações relevantes. Além de ser construída por exclusão — exigindo descartar o consumo significativo de álcool e outras causas de doença hepática —, ela não refletia adequadamente os determinantes biológicos da condição.

Mais do que uma imprecisão científica, esses termos carregavam um peso estigmatizante para os pacientes. Estudos demonstraram que a expressão “gordurosa” e a referência ao álcool, mesmo em contexto de negação, geravam desconforto e prejudicavam tanto a comunicação médico-paciente quanto a adesão aos cuidados.

Além disso, a definição excludente desconsiderava a sobreposição entre disfunções metabólicas e outras etiologias hepáticas, como o consumo moderado de álcool — uma realidade clínica frequentemente observada.

Diante desse cenário, o novo modelo propõe uma definição afirmativa, centrada na disfunção metabólica como eixo fundamental da doença hepática associada à esteatose.

Critérios Diagnósticos: uma abordagem centrada na fisiopatologia

No modelo atual, o diagnóstico de MASLD se estabelece pela presença de esteatose hepática, associada a pelo menos um dos seguintes critérios de risco cardiometabólico:

  • Obesidade (definida por IMC elevado ou aumento da circunferência abdominal);
  • Diabetes mellitus tipo 2 ou pré-diabetes;
  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Dislipidemia (triglicerídeos elevados ou colesterol HDL reduzido);
  • Outros marcadores de resistência insulínica.

A partir desse enquadramento, a evolução da esteatose para um quadro inflamatório, com lesão hepatocelular e risco de progressão para fibrose, define o diagnóstico de MASH. A manutenção do termo steatohepatitis é fundamental do ponto de vista científico, pois garante a continuidade dos critérios histológicos utilizados até então — presença de esteatose, inflamação lobular e degeneração hepatocelular (ballooning). Isso permite não apenas a preservação da comparabilidade com estudos e registros anteriores, como também assegura a consistência no desenvolvimento e validação de biomarcadores e terapias.

Implicações clínicas e científicas da nova nomenclatura

A adoção de MASLD e MASH traz benefícios diretos para a prática clínica e para a pesquisa. Sob o ponto de vista clínico, o modelo afirmativo permite maior alinhamento com as abordagens já adotadas em outras especialidades, como endocrinologia e cardiologia, onde a síndrome metabólica é um eixo central de cuidado.

Além de reduzir o estigma associado aos termos anteriores, a nova nomenclatura melhora a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes e facilita o rastreamento precoce dos indivíduos em risco, promovendo uma abordagem integrada e multidisciplinar.

No campo científico, essa atualização fortalece a estratificação de risco, aprimora os critérios de inclusão em ensaios clínicos e orienta o desenvolvimento de terapias mais direcionadas, alinhadas à fisiopatologia da doença.

Considerações finais

A transição de NAFLD para MASLD e de NASH para MASH representa muito mais que uma simples atualização de nomenclatura. Trata-se de uma mudança paradigmática que reflete o entendimento contemporâneo da doença hepática associada à esteatose — uma condição de natureza metabólica, sistêmica e com alto impacto na saúde pública global.

Ao adotar critérios diagnósticos afirmativos, centrados na disfunção metabólica, o novo modelo não apenas aprimora a acurácia clínica, mas também contribui para reduzir barreiras no cuidado, aumentar a efetividade das intervenções e estimular uma prática médica mais precisa, ética e centrada no paciente.

Referência: Rinella ME et al. Hepatology. 2023;77:1797–1835

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23 de abril de 2025 Artigos

Autores: Baldon RY, Barbosa ACNR, Mesquita NF, et al. Hepatotoxicidade fitoterápica: dificuldades no diagnóstico e tratamento de lesões hepáticas por óleo de borragem. Res Soc Dev. 2025;14(1):e1414147967. doi: 10.33448/rsd-v14i1.47967.

Resumo:

Este estudo apresenta o caso de uma mulher de 53 anos que desenvolveu hepatite após o uso de óleo de borragem (BBorago officinalis), um fitoterápico utilizado para sintomas relacionados à menopausa. Após tratamento com corticosteoides, houve aumento das aminotransferases e surgimento de autoanticorposicorpos sugerindo hepatite autoimune induzida pelo fitoterápico. O tratamento imunossupressor resultou em melhora significativa. Os autores destacam a diversidade de lesões hepáticas induzidas por fitoterápicos e a necessidade de acompanhamento rigoroso dos casos, com possíveis alterações no diagnóstico e conduta durante o tratamento.

 

Leia o artigo na íntegra: Hepatotoxicidade fitoterápica: dificuldades no diagnóstico e tratamento de lesões hepáticas por óleo de borragem

 


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2 de abril de 2025 Artigos

Autores: Abreu ES, Nardelli MJ, Lima AMC, et al. Carvedilol as secondary prophylaxis for variceal bleeding in hepatosplenic schistosomiasis. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2022;116(7):663-667. doi: 10.1093/trstmh/trab190.

Resumo:

Este estudo investigou o uso do carvedilol como profilaxia secundária para sangramentos varicosos em pacientes com esquistossomose hepatosplênica. A pesquisa incluiu 60 pacientes que apresentaram sangramento varicoso, sendo 30 tratados com carvedilol e 30 com propranolol. Os resultados indicaram que o carvedilol foi tão eficaz quanto o propranolol na prevenção de novos episódios de sangramento, com uma taxa de recidiva de 10% no grupo tratado com carvedilol e 13,3% no grupo tratado com propranolol. Além disso, o carvedilol apresentou um perfil de efeitos colaterais mais favorável. Esses achados sugerem que o carvedilol pode ser uma alternativa eficaz e segura ao propranolol na profilaxia secundária de sangramentos varicosos em pacientes com esquistossomose hepatosplênica.

 

Leia o artigo na íntegra:Carvedilol as secondary prophylaxis for variceal bleeding in hepatosplenic schistosomiasis


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23 de março de 2025 Artigos

Autores: Bertin Mira G, Silva L, Silva M, et al. Hepatite imunomediada por mecanismo de hipersensibilidade associada ao uso de chá de Ayahuasca: relato de caso. Cad Bras Med. 2024;37(1-4):43-48.

Resumo:

Este estudo apresenta o caso de um paciente que desenvolveu hepatite imunomediada por mecanismo de hipersensibilidade após o uso de chá de Ayahuasca. A pesquisa destaca a importância de reconhecer os potenciais efeitos adversos do consumo dessa substância, especialmente em relação à função hepática. Os autores enfatizam a necessidade de monitoramento médico adequado para indivíduos que utilizam o chá de Ayahuasca, visando a detecção precoce e o tratamento de possíveis complicações hepáticas.

 

Leia o artigo na íntegra: Hepatite imunomediada por mecanismo de hipersensibilidade associada ao uso de chá de Ayahuasca: relato de caso

 

 


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7 de fevereiro de 2025 Artigos

Autores: Bittencourt PL, Nardelli MJ, Barros LL, et al. Recorrência de colangite esclerosante primária e colangiocarcinoma de novo após transplante de fígado: resultados do Consórcio Brasileiro de Colestase. Clin Transplant. 2024;38(10):e70002. doi: 10.1111/ctr.70002.

Resumo:

Este estudo investigou a recorrência de colangite esclerosante primária (CEP) e o desenvolvimento de colangiocarcinoma (CCA) de novo após transplante de fígado (TF) em pacientes com CEP. Os resultados indicaram que a recorrência de CEP é uma complicação significativa após o TF, com risco aumentado de desenvolvimento de CCA de novo. Os autores destacam a importância de monitoramento contínuo e estratégias de tratamento direcionadas para esses pacientes, visando melhorar os resultados pós-transplante.

 

Leia o artigo na íntegra: Recorrência de colangite esclerosante primária e colangiocarcinoma de novo após transplante de fígado: resultados do Consórcio Brasileiro de Colestase

 

 


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Autores: Salton YD, Possamai JA, Schiavon LL, Narciso-Schiavon L. Celiac disease and cardiovascular diseases. Revista Contemporânea. 2024;4(4).

Resumo:
Este artigo revisa a relação entre a doença celíaca (DC) e doenças cardiovasculares (DCV), explorando fatores imunológicos, metabólicos e inflamatórios que podem conectar essas condições. Apesar de uma dieta isenta de glúten reduzir o risco de complicações associadas à DC, a inflamação crônica e deficiências nutricionais podem predispor pacientes a alterações cardiovasculares, incluindo aterosclerose e miocardiopatia. A revisão destaca a importância do rastreamento de DCV em pacientes com DC e discute potenciais mecanismos envolvidos, como dislipidemia, homocisteinemia e inflamação sistêmica.

Conclusão: Médicos devem estar atentos ao risco aumentado de DCV em indivíduos com DC, promovendo intervenções precoces e rastreamento cardiovascular em casos indicados.

Leia o artigo na íntegra: Doença celíaca e doenças cardiovasculares


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Autores: Gomide GPM, Teixeira MS, Pereira GA, Camargo FC, Pastori BG, Dias FF, Ferreira JCC, Meireles PT, Silva NC, Carvalho Neta OS, Lima VGS, Cunha RAP, Abdalla DR, Oliveira CCHB. Epidemiological study of Hepatitis C in people deprived of liberty. ABCS Health Sci. 2023;48:e023301653. doi:10.7322/abcshs.2023016.

Resumo:

Este estudo transversal investigou a prevalência de anticorpos anti-HCV e os aspectos sociodemográficos e clínicos associados em uma população privada de liberdade. A pesquisa incluiu 1.000 detentos, dos quais 4,1% apresentaram resultado positivo para anti-HCV. A análise revelou que a infecção por HCV estava significativamente associada ao uso de drogas injetáveis, tatuagens realizadas em ambiente prisional e tempo de encarceramento superior a cinco anos. Os autores destacam a importância de estratégias de prevenção e controle do HCV nesse grupo vulnerável, incluindo triagem sistemática, educação em saúde e acesso a tratamentos antivirais eficazes.

Leia a íntegra do artigo: Epidemiological study of Hepatitis C in people deprived of liberty


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29 de novembro de 2024 Artigos

Autores: Gomide GPM, Camargo FC, Oliveira CCHB. Técnicas de pesquisa para ampliar o diagnóstico, macroeliminação e microeliminação da hepatite C em contextos locais. Rev Soc Bras Med Trop. 2024;57:e00714-2024. doi: 10.1590/0037-8682-0150-2024.

Resumo:

Este estudo de métodos mistos teve como objetivo fortalecer os esforços de eliminação da hepatite C no Brasil, integrando abordagens qualitativas e quantitativas. Os resultados incluíram o desenvolvimento de documentos institucionais, organização de comitês, estratégias de mobilização, modelos para melhorar a conscientização intersetorial, fluxogramas de tomada de decisão, formulários e protocolos de serviços de saúde. A aplicação dessas técnicas gerou conhecimentos valiosos que podem ser adotados em diversas regiões do Brasil, especialmente em áreas com diversidade econômica e sociocultural.

 

Leia a íntegra do artigo: Técnicas de pesquisa para ampliar o diagnóstico, macroeliminação e microeliminação da hepatite C em contextos locais


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15 de outubro de 2024 Artigos

Autores: Nardin GD, Colombo BS, Ronsoni MF, Silva PES, Fayad L, Wildner LM, Bazzo ML, Dantas-Correa EB, Narciso-Schiavon JL, Schiavon LL. Thyroid hormone profile is related to prognosis in acute decompensation of cirrhosis. Arch Endocrinol Metab. 2024 Aug 13;68:e230249. doi: 10.20945/2359-4292-2023-0249.

Resumo:
O estudo avaliou a relação entre o perfil hormonal tireoidiano e o prognóstico em pacientes hospitalizados por descompensação aguda de cirrose. Trata-se de uma coorte prospectiva com 119 pacientes, cujos níveis de TSH, fT3 e fT4 foram medidos nas primeiras 24 horas de internação e acompanhados por 90 dias. Pacientes com pior prognóstico (Child-Pugh C e ACLF) apresentaram níveis mais baixos de fT3 e relação fT3/fT4, associados a piores desfechos, como ascite, infecções e maior mortalidade. Um novo modelo preditivo, que inclui MELD, TSH e a razão fT3/fT4, mostrou maior acurácia para prever mortalidade em 90 dias. O artigo sugere que o perfil tireoidiano pode ser uma ferramenta prognóstica útil na prática clínica para manejo da cirrose.

Leia a íntegra do artigo: Thyroid hormone profile is related to prognosis in acute decompensation of cirrhosis


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2 de setembro de 2024 Artigos

Autores: Souza MJ, Pereira JG, Mangrich ACS, Pasinato APBF, Dantas-Corrêa EB, Schiavon LL, Narciso-Schiavon JL. Factors associated with advanced fibrosis in individuals with non-alcoholic fatty liver disease. Acta Gastroenterol Latinoam. 2023;53(1):39-48. doi:10.52787/agl.v53i1.255.

Resumo:
Este estudo avaliou os fatores associados à fibrose avançada em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Utilizando um grupo de 450 pacientes, a pesquisa identificou que obesidade, diabetes mellitus tipo 2, níveis elevados de triglicerídeos e resistência à insulina estão fortemente relacionados ao desenvolvimento de fibrose avançada. A combinação de parâmetros clínicos e laboratoriais, como o índice FIB-4 e elastografia transitória, mostrou ser útil na identificação de indivíduos em risco. O estudo reforça a importância de rastrear precocemente a fibrose hepática em pacientes com DHGNA, especialmente naqueles com múltiplos fatores metabólicos, para prevenir a progressão para cirrose e suas complicações.

Leia a íntegra do artigo: Factors associated with advanced fibrosis in individuals with non-alcoholic fatty liver disease


Dr. Carlos Terra
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